Cada uma vivia se cutucando como se estivessem presas dentro de uma lata de sardinha. E se a gente pudesse falar, diríamos que sim! Estávamos espremidas!
Umas nas outras, envolvidas por uma camada grossa do que um dia já foi uma árvore.
E no entorno do que um dia já foi uma árvore, um plástico.
E no entorno do plástico, outros parecidos…
Perto dos parecidos, produtos do sertão, mel industrializado, uma toalha quadriculada, bolos caseiros, salgados de camarão, alguns quadros que tentavam imitar Romero Brito - e conseguiam, porque qualquer pessoa com dois neurônios e tinta consegue imitá-lo - um ar condicionado que não funcionava, uma atendente vestida de mamãe noel, Nossa Senhora Aparecida e muitos, mas muitos adesivos de motoqueiros que passavam por lá, e não reparavam que nós também estavamos lá, espremidas entre tudo isso.
Espremidas, mas autênticas.
Cada palavra tem seu valor, reconhecemos isso. Um valor que não é monetário (e de certa forma também é) dentro dos livros que também estavam espremidos.
Às vezes, os que passam por nós estão… como nós: espremidas, entaladas, esquecidas.
A diferença é que fomos impressas. Estamos vivas. Somos reais. E autênticas! Não podemos nos esquecer disso.
Achamos que, se continuarmos autênticas, alguém vai parar e vai lembrar da gente. Ou pelo menos vai prestar atenção na embalagem feita do que um dia já foi uma árvore.
Os mais curiosos vão parar pra nos ler.
Os mais gulosos vão tentar entender porque há tantas de nós perto de tanta comida. E esses são os melhores: sabem que poderíamos estar em um lugar melhor, mas também sabem que somos uma delícia.
Entre músicas e reflexões
escolhi as duas
Assim como as palavras dos livros de uma loja de conveniência de um posto de gasolina à beira da estrada que tinha tudo menos espaço, muitas vezes também nos sentimos espremidos, entalados, esquecidos.
Mas temos que nos manter autênticos. Porque é isso que nos diferencia dos outros espremidos, entalados e esquecidos.
Se for pra sofrer, sofra do seu jeito. Se for pra gritar, seja do seu jeito. Se for pra rachar de rir, rache de rir do seu jeito. Às vezes só estamos espremidos, entalados e esquecidos porque não somos nós mesmos.
A música de hoje é um reforço a isso: a melhor coisa que podemos fazer é nos conhecer e nos aceitar, do jeitinho que somos. Seja autêntico. Ou pelo menos tente. Você vai tirar um peso das costas, e vai andar mais leve. Quem não gostar, que lute.
I'm sure everything will end up alright
You may win or lose
But to be yourself is all that you can do
To be yourself is all that you can do
Inspiração do Azulejo
No sábado, saímos de Natal rumo à João Pessoa para uma corrida de rua. Mas calma, fomos de carro.
No meio do caminho eu, que já estava me acabando de fome, porque sou assim (e aceito), pedi para pararmos no posto mais próximo que tivesse alguma conveniência.
Paramos. Pedi uma trouxinha de frango. Sentamos para comer.
Em algum momento (depois de matar minha fome) o caos do local me chamou atenção. Era tudo muito junto um do outro, e coisas aleatórias muito juntas umas das outras - como já falei no Azulejo.
Perguntei se David (meu marido) estava com o celular. Ele perguntou se era pra tirar foto pra um Azulejo.
E era.
Bem, espero que tenham gostado.
Um abraço, e até a próxima quarta-feira.