Saí pra correr no final da tarde. Algo pouco comum para quem costuma sempre fazer exercício de madrugada, com o sol preguiçoso acordando.
Abri o aplicativo de música, mas não queria a mesma playlist de sempre. Saí rolando pelos gêneros musicais e me vi colocando uma playlist de Country.
Coloquei meus fones de ouvido e ajustei meu relógio para começar a cronometrar.
Com alguns minutos de corrida, simplesmente entrei em outra dimensão.
Lembrei de uma viagem aos Estados Unidos, eu e minha família. Alugamos um carro bem norte-americano e eu, com meus dedinhos nervosos, estava no banco da frente tentando achar alguma rádio boa.
Parei em uma música bem dançante, bem country.
Nossa, eu sempre amei músicas dançantes - e sempre disse que não curtia rock.
Do banco de trás, meu irmão disse:
– Tu sabe que esse country aí vem do rock, né:?
– Que mentira!, eu disse
– Oxe, dá uma pesquisada aí
– Vei, bora só escutar, tamo de volta no velho oeste
– Luana, a gente tá em Miami. Aqui é mais pra novo México
– Que história, pô
– Vocês dois, não conseguem concordar em uma coisa, não? Minha mãe falou do banco de trás. A música é boa!
– Isso lembra os faroestes que papai assistia - meu pai falou do banco do motorista
– Nossa, aqueles faroestes eram a cara de vovô!
Todo mundo ficou em silêncio por um tempo, e alguém fungou.
Tínhamos saudades dele, até mesmo quando ele parecia muito mais um cavalo batizado que um ser humano comum.
Era brutinho, mas todo mundo amava. Dava mil coices e xingava todo mundo, mas sempre que precisasse, estava lá.
Amava faroeste, batata-frita e acordar às 5h da manhã pra comprar pão na padaria ou simplesmente dirigir por aí.
Acho que foi dele que eu peguei a maior parte dos meus hábitos, menos o de faroeste.
Mas ali estava eu, ouvindo Country enquanto corria e escurecia.
Se ainda estivesse vivo, a primeira coisa que ia dizer seria pra ter cuidado com os carros, porque “muita gente não sabe dirigir”.
Mas também reclamaria porque eu tava saindo muito tarde de casa, já perto de escurecer.
Provavelmente eu só acenaria com a cabeça e sairia mesmo assim. Quando voltasse pra casa, ele estaria comendo batata-frita com coca-cola, daquelas que são engarrafadas em vidro, assistindo a algum faroeste no maior volume possível.
De repente, a música parou.
Lembrei que tava correndo e que já tinha se passado quase uma hora desde que saí de casa.
O celular descarregou e apressei o passo pra casa, pra não voltar tão tarde. Tomei cuidado com os carros mas não comi batata-frita nem coca-cola. Coloquei o celular pra carregar e liguei uma playlist não mais de country, mas folk, e fui tomar um banho pra jantar.
Entre reflexões e músicas
Escolhi uma música - e uma reflexãozinha, vai
Talvez essa não seja a música que você mais ame no mundo, mas dificilmente você já escutou. E fazer com que você conheça novos estilos e novos artistas também é o objetivo dessa news, então dê uma chance ao Tyler e ao Matt.
Sobre as reflexões… Bem, hoje estou saudosa. Não pelo meu avô, como sugere a crônica, mas saudosa de tudo o que já foi.
Nem toda saudade é escura, de falta. Eu vejo a saudade como um grande espectro, onde você pode ver luzes mais radiantes e também cores mais macabras. Depende de como você olha para o passado (ou para as pessoas de quem você sente falta, se for o caso).
O que eu acho mais interessante na saudade é que ela fala muito sobre você: sobre quem você era e quem se tornou depois que algo se foi.
Reserve uns 5 minutinhos de hoje para pensar sobre o que te faz sentir saudade. Pode ser algo ou alguém. Lembre-se: o que já não é, um dia foi. E se há saudade, continua existindo em você.